segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Julho 2009 - Oferecei vossos corpos como hóstia viva!


Palavra do Mês

Oferecei vossos corpos como hóstia viva!

“Exorto-vos, portanto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus” (Rm 12, 1).

Que lindo poder fazer das nossas vidas um verdadeiro culto espiritual e dos nossos corpos hóstias vivas, santas, agradáveis a Deus! Eis aqui uma das mais belas definições de vida humana, que Paulo nos convida a descobrir no fim destas nossas meditações sobre este apóstolo.

Pela cultura judaica, o sacrifício exigia a morte da vítima, mas Paulo, neste texto, fala do sacrifício em relação à vida do cristão! Na verdade, Jesus nos ensina que “amar é dar a vida para os irmãos” (cf. Jo 15, 13) e frequentemente reduzimos este “dar a vida” a “morrer” por amor ao outro ou por amor ao Senhor. O verdadeiro sentido destas palavras é, entretanto, bem mais profundo.

Paulo, à escola de Cristo, descobriu que viver é ser um dom para os outros, é dar-se sem reservas, é amar com todas as forças, coração, alma, entendimento, manifestando o Cristo na nossa vida, no nosso corpo: “para mim o viver é Cristo!” (Fl 1, 21). Paulo e nós podemos tornar-nos, assim, hóstias, Eucaristias vivas, renunciando à nossa vida (“não sou mais eu que vivo…” [Gl 2, 20]) para que Cristo viva em nós. Realmente, somos chamados a “glorificar a Deus no nosso Corpo” (1Cor 6, 20).

É maravilhoso saber que na minha entrega plena, concreta, no amor, no meu consumir-me por amor, no dia-a-dia, no “amar até doer”, como dizia Madre Teresa, eu realmente me torno Eucaristia viva, culto verdadeiro, e que, assim, cada gesto, olhar, sorriso, abraço, se torna manifestação de Cristo para os irmãos.

É o que experimentava frequentemente a própria Madre Teresa. Numa destas vezes, enquanto ela cuidava de um leproso muçulmano, cujas feridas exalavam um cheiro que a ninguém dava coragem de se aproximar, o homem disse: “Agora sei que Jesus não é só um profeta, Ele é Deus, porque só Deus poderia colocar tanto amor nas suas mãos!”. Em outras palavras, assim nos convida Paulo: “Em tudo o que fizerdes ponde a vossa alma, como para o Senhor e não para homens, sabendo que o Senhor vos recompensará como a seus herdeiros: é Cristo o Senhor a quem servis” (Cl 3, 23-24).

Que bonito viver a vida e cada gesto de amor como um culto à Glória de Deus! A vida se torna sagrada liturgia e tudo o que é humano torna-se divino: “Todo pequeno gesto se torna um acontecimento imenso, em que nos é dado o paraíso. Não importa o que devemos fazer, em tudo é Deus que vem para amar-nos” (Madeleine Delbrêl). Quem descobre este segredo, percebe que nada, nenhum gesto, mesmo que pequeno, se torna indiferente. E, como disse o Papa Bento XVI, o menor gesto de amor, desde que sincero, se fixa na eternidade e alcança o universo inteiro.

Escreveu o Pe. Giovanni Santolini, morto mártir no Zaire: “Verdadeiro mártir é aquele que se acostuma a dar a vida, dia após dia, ao ponto de, para ele, isso se tornar um hábito e não perceber mais. Mártir não é quem faz o bem! Você se acostuma a dar a vida ao ponto de, num instante, ter a sorte de dar verdadeiramente a vida. No fundo, viver o Evangelho só significa ter o hábito de dar a vida”.

Por isso, a morte que levou Paulo a coroar sua vida com o martírio não foi um acidente de percurso, mas a lógica consequência de uma vida doada, dia após dia, por amor, sem reservas, apaixonadamente. Aí o seu sacrifício se consumia, e ele, que literalmente perdeu a cabeça por amor ao Senhor, escrevia: “Quanto a mim, já fui oferecido em libação, e chegou o tempo de minha partida. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Desde já me está reservada a coroa da justiça, que me dará o Senhor, justo Juiz, naquele Dia; e não somente a mim, mas a todos os que tiverem esperado com amor sua aparição” (2Tm 4, 6-8).

Queira Deus que nós também sejamos envolvidos neste número de eleitos pela vivência desta Palavra Gloriosa!

Pe João Henrique